
Ainda sinto os respingos, em meus braços, das tintas compradas nas lojas de construção para revestir, com realeza, as velhas paredes da casa que habitávamos na rua José Vaz de Andrade, no km 100, nestes dias frios de junho.
Todo ano era uma cor diferente: torcia sempre pelo amarelo, minha cor preferida, e via, meio desolado, outra cor surgir quando passavam as horas e, uma vez secas, as paredes ganhavam outros tons. Mas, era mágico e ritualístico dar, também às construções, roupas novas para as festas juninas.
Sim, porque, junho era tempo de roupa nova. As feiras ficavam mais vistosas e populosas. As pessoas da região vinham comprar, também, amendoim, laranja, milho, aipim, batata-doce e genipapo para os dias chuvosos.
Sentia-me como na canção de Elmoar – “o pidido – vendo aquela aquarela humana ser desenhada nas ruas do meu povoado.
Antes do João, Antonio se fazia presente e primaz por ser nosso padroeiro. Pedro, vinha logo em seguida e a tríade junina fazia com que as aulas fossem suspensas, o frio se intensificasse, o céu se tornasse cenário de balões e bandeirolas e o meu povo, com certeza, mais feliz e festivo.
Muito do que vivi na infância está vivo na memória. Como tudo na vida, muita coisa mudou e não acho isso ruim: a tradição pede um “gole” de socorro e a alma clama pela festividade que lhe dá, nestes dias, também roupas novas.
Ainda ouço o som das sanfonas e os passos das quadrilhas, o cheiro do quentão, o colorido das ruas e os benditos da igreja… sinto o bailar do quadril ao sentir o toque da zabumba e do triângulo e há calor em minhas mãos ao aproximá-las das fogueiras que ainda existem.
preciso tomar um banho para tentar tirar essa tinta que respingava, mas ela ficou tatuada em minha alma. E, como qualquer outra marca desse tipo, ainda é difícil de sair.. e não quero que saia…
Viva o nosso junho de dias chuvosos, noites frias e memória efervescente. Viva a alegria que precisa estar viva nestes tempos de desilusão.
Viva o amor, que como diz a canção é “tão bonito e tão sincero como festa de São João!..