João de Hortência Mestre das Rapaduras

Nascido e criado na cidade de Brejões, o mestre João morou na zona rural durante toda sua infância, na comunidade do Riacho do Meio. Cresceu rodeado de tradições culturais, vendo sua mãe, d. Venância, benzedeira rezar a todos que ali chegavam. Sua mãe o criou sozinha, sem ajuda paterna, na verdade nunca o conheceu. Único homem na família, sempre ajudou em casa trabalhando na roça, na lavoura e na colheita do café. Aprendeu a tocar pandeiro com os colegas nas festas da região e nas rezas de santos católicos. Amante do samba, aprendeu muito cedo a tocar e a cantar as chulas regionais, as quais hoje ele ensina com muito vigor a todos os componentes do samba de roda mãezinha do céu, sendo ele o mestre da brincadeira.

Como mestre, além de ser quem puxa a cantoria e define as chulas, ele também encanta a todos que o acompanham por carregar nas mãos um instrumento inusitado, as tais “rapaduras” ou “as tabinhas” (como ele batizou). São dois pedaços de madeira, cortados criteriosamente e bem acabados para não machucar suas mãos. As “rapaduras” são, segundo seu João, um acompanhamento das palmas de mãos. Crianças, jovens e adultos ficam curiosos ao vê-lo tocar e ouvir o som produzido. João de Hortência foi um dos fundadores do samba de roda em Brejões, junto com mestre Sales e Euclides Preto, na primeira formação em 1983, onde se apresentaram na famosa feira dos municípios que acontecia anualmente em salvador. Seu João, além de mestre do samba, herdou de sua mãe a tradição da reza de Cosme e Damião e Bom Jesus da Lapa, mas começou mesmo a por em pratica a devoção quando teve seus filhos gêmeos, há mais de 50 anos.

Todo ano, faça ou faça sol, ele reza para os ibegis. Sua reza é muito famosa, por isso a rua onde mora fica lotada de pessoas a espera de uma vaga para apreciar não só o caruru, mas também fazer parte do samba. Conhecedor das ervas medicinais, sempre tem uma receita para compartilhar. Seu foco é remédio de parida. Ele tem muita sabedoria para as puérperas. Um dos principais é o banho antes do parto para fechar o corpo. No pós parto, ele indica o poejo para fazer o xarope para mulher parida tomar a fim de auxiliar na limpeza do corpo. A sabedoria dele sobre as ervas ele herdou da mãe raizeira (detentora das ervas medicinais). Ele conta que tem uma pedra no mato que parece um bofe, chama pedra do estopor, da mais na região da mata, remédio para moléstia do tempo (doença que causa tontura, fraqueza), cozinha o chá e a pessoa fica curada. Segundo ele, hoje em dia ninguém quer mais aprender e nem ensinar sobre essas coisas. Preferem tomar remédios de farmácia.

Tem como santo de devoção São João, afinal nasceu no dia 25 de junho de 1937 e foi batizado como João Batista. Porém em seu documento está registrado dia de São Pedro. Acende fogueira anualmente e comemora com muita comida típica e bebida da época. Recebe devotos em sua casa e é um dos poucos na cidade a manter essa tradição. Devoto também da padroeira da cidade, nossa Senhora da Conceição, anualmente faz questão de carregar o andor na procissão, mesmo com seus 89 anos.

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